QUANDO OS CORAÇÕES SE FECHAM, TODOS PERDEM
Não faz muito tempo, fui convidado para participar de uma "Missa Internacional”. O tom "Internacional” vem
do fato de que as duas Leituras
são feitas em língua estrangeira e o trecho do
Evangelho em japonês. As Orações
da Assembleia seguem o mesmo padrão. Contudo,
todas as demais partes da missa foram marcadas pelo estilo ritualista
japonês, com a ausência de expressões e símbolos da religiosidade dos grupos de
estrangeiros. A situação indicou que a missa não batia com suas vidas. Foi como
roer um osso sem carne. Em outras
palavras, não foi “agradável”.
Em certa ocasião, uma celebração semelhante estava
para iniciar e havia indícios da
presença de poucas pessoas e que
não seria a missa que
apreciariam. Percebi que a preocupação não era só minha. Um acólito vestindo
sua túnica se aproximou e me disse: "as missas internacionais não deixam
ninguém contente; os japoneses não vêm porque não entendem as línguas
estrangeiras e os estrangeiros não vêm porque não estendem a língua japonesa”.
A integração de imigrantes pode ser um grande
desafio, particularmente na sociedade tradicional japonesa que é caracterizada
pelo fechamento. A situação é uma oportunidade para refletir sobre a qualidade
e autenticidade dos nossos valores cristãos no que se referem à fraternidade e solidariedade que exigem “corações
abertos” para acolher o estrangeiro.
A resistência para quebrar o círculo vicioso da
parte da Igreja Local e a falta de preparação dos estrangeiros para se tornarem membros de uma nova comunidade é
estressante para todos. Por causa disso podemos constatar que muitos católicos
japoneses vão participar de missas em igrejas onde não existem atividades com
estrangeiros. Entre os imigrantes latino-americanos, percebemos dois
movimentos: um é a existência de grupos independentes com religiosidade marcada
pelo pentecostalismo, fora da autoridade do sacerdote ou da estrutura paroquial, mas usando suas dependências; e
outro, muitos imigrantes preferem criar suas próprias comunidades como igrejas
protestantes que se transformam numa segunda casa onde eles podem ir diversas
vezes por semana, participar de serviços religiosos em sua própria língua e
encontrar alguém com quem falar
sobre seus problemas. Note-se que a quase totalidade das igrejas católicas só
oferece a oportunidade de celebrar a missa em língua estrangeira uma vez por mês e em horário inconveniente, dificultando a formação de
comunidades.
Na verdade a Igreja Católica no Japão está se
interessando muito na acolhida dos estrangeiros. Existem muitas missas em
português, espanhol, inglês e outras línguas
pelo país afora. Se trabalhar
com pessoas da mesma cultura e religião já é considerado como um aprendizado
que dura a vida toda, numa situação intercultural e religiosa, muitos outros desafios deverão ser
enfrentados.
O processo bem sucedido para construir a Igreja
como casa na qual os japoneses e estrangeiros possam sentir-se bem, sugere um chamado à comunhão de todos os membros da Igreja e que se assuma a
visão do Reino de Deus no qual as pessoas de cada cultura e origem possam
conviver em paz e amor. Os japoneses e imigrantes poderiam nutrir o sonho de que a qualidade de sua fé não será
julgada tendo como critério a
cultura, modo de viver, manifestações religiosas, mas pela existência do amor que une as pessoas com suas diferenças e
se enriquece com elas.
A maturidade de uma comunidade cristã poderá ser constatada quando as pessoas de
diversas culturas e procedências e os japoneses celebrarem a vida com alegria, na sua caminhada na fé.
Missionário Pe. Olmes Milani CS
Tóquio dia 23 de abril de 2012.
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