Alimento da Vida -Dia 2 de Setembro de 2012- “Vós abandonais os mandamentos de Deus para seguir a tradição dos homens”. Os mandamentos de Deus são eternos e mais importantes.

ARTIGOS - PADRE OLMES MILANI


O MORTO ESTÁ VIVO! 
E AGORA?


Missionário   Pe. Olmes Milani
Imaginemos que estamos conversando numa roda de amigos depois de três dias do funeral de uma pessoa amiga ou conhecida e de repente alguém anuncia: “Ele está vivo!”.
Com certeza, ideias e sentimentos confusos tomarão conta dos ouvintes.Para alguns poderia parecer uma mentira, para outros uma brincadeira inconveniente e de mau gosto e haveria alguém que desejasse verificar se o anúncio corresponde à verdade. 
Mas, provavelmente seriam tomados pelo espanto, mesmo que tenha revivido alguém muito querido. Passados alguns momentos, se algo parecido acontecesse, poder-se-ia iniciar um processo de refamiliarização com a pessoa que se supunha, teria partido para sempre deste mundo.
Cristo havia afirmado diversas vezes aos seus discípulos que depois de sofrer, morrer, ser sepultado e ressuscitaria dentre os mortos. Pelas reações constatadas por ocasião de sua ressurreição, nem mesmo seus seguidores e seguidoras mais íntimos o tomaram a sério. 
Tanto assim que as mulheres foram ao túmulo de manhã cedo, para embalsamar o corpo de Cristo, como manifestação de que não esperavam mais revê-lo com vida.
Alguns apóstolos, despreocupados com o assunto, se agitam ao ouvirem a notícia de que o corpo teria sido roubado.
Os dois caminhantes, rumo a Emaus, manifestam sua frustração diante do fato que Cristo, o esperado libertador de Israel, foi morto antes de realizar a façanha e só haviam escutado boatos a  respeito dEle, após o sepultamento.


Ao retornar a Jerusalém, encontram os demais discípulos e mulheres que, como eles, O viram em pessoa, abençoando o pão, sentando-se à mesa e partilhando a comida com eles.

 Conforme vão tendo a certeza de que é  Ele mesmo e vivo, os laços entre as pessoas e Ele vão sendo restabelecidos. Uma mudança significativa pode ser constatada depois da ressurreição. Já não se verifica a competição para ver quem é o primeiro e a ideia de Cristo como líder político, restaurador de um reino estilo romano foi abandonada. Uma vez composto o novo ambiente com o ressuscitado, entrevendo-se uma aproximação mais aprofundada com o Mestre, pode-se tentar responder à pergunta: E agora?
A  resposta ao Mestre e seus ensinamentos é aceitar o envio em missão a todos os povos, batizando-os e ensinando-os a observar o que Ele ensinou. Os enviados continuarão gozando da presença de  Cristo vivo, ressuscitado:


Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo(Mateus 28,19-20).

Tudo o que fazemos, a fé, o amor cristão, a missão de construir o Reino do Pai tem sentido e é possível porque Cristo ressuscitou.
 A ressurreição de Jesus é a prova definitiva de que Ele é Filho do Pai e concebido do Espírito Santo. Se Ele não tivesse ressuscitado nossa fé seria vã e sem sentido. Tudo teria acabado com sua morte.
Pregar sobre Cristo seria em vão; todas as testemunhas e pregadores da ressurreição seriam mentirosos ; ninguém poderia ser redimido do pecado ;  os cristãos seriam os mais infelizes de todos os homens porque estariam vivendo enganados.
Agora que Cristo está vivo somos desafiados a nos engajar com Ele na construção do Reino do Pai, respondendo positivamente às palavras.


vão e façam que todos os povos se tornem meus discípulos...
(Mateus 28,19).






OS IMIGRANTES CELEBRAM O NATAL LONGE DE CASA
                                                                                                 Missionário Pe. Olmes Milani CS

“Junto aos canais da Babilônia nos sentamos e choramos, com saudades de Sião.Nos salgueiros de suas margens penduramos nossas harpas. Lá os que nos exilaram pediam canções... Como cantar um canto a Javé em terra estrangeira?”(Sl. 137,1-2,4)
Os espetaculares adornos luminosos de Natal, embora com menos exuberância, devido à crise econômica e aos problemas causados pelos desastres naturais, no Japão, mesmo não sendo um país de cultura cristã, aparecem em todos os lugares. Se não fosse isso, a maioria dos estrangeiros não teríamos a impressão de que a humanidade está para celebrar a vinda de Cristo como a festa que une a família e enseja a oportunidade para a confraternização.
 Aliás, o dia 25 de dezembro não é feriado em diversos países da Ásia. As indústrias, repartições públicas e comércio funcionam normalmente como qualquer outro dia. A possibilidade de ir à Igreja é quase nula.
 O belo costume da ceia em família, à noite na casa dos pais de um dos cônjuges e, no dia de Natal, naquela do outro é uma simples recordação, considerando o fato que poucos imigrantes estão aqui com seus pais e avós dos filhos.
Ainda existe o recurso da internet e telefone para as saudações natalinas às pessoas distantes. Contudo, aqui também, a diferença de fuso horário, 12 horas, prejudica significativamente.
Numa parte do mundo é dia e na outra é noite. Nem tudo está perdido. Nem é o momento para sentar, pendurar as chuteiras ou os violões e mergulhar na tristeza e solidão.

Em terra estranha podemos reagir de forma positiva. A criatividade e o amadurecimento podem ser meios para que os imigrantes descubramos novas formas de celebrar as festas natalinas e, mais ainda, entender seu verdadeiro significado. 

Festas, viagens, visitas e outras coisas têm um começo e um final. Ao término das mesmas é pouco o que fica no tesouro íntimo das pessoas por serem atividades que provocam mais euforia do que felicidade. Percebe-se que a euforia é uma ilusão momentânea da felicidade enquanto esta vai-se acumulando na pessoa, através de uma busca incessante. 

Pode-se descobrir que Natal é bem mais um estado de espírito do que a celebração de um dia que passa.
O vazio afetivo, a ausência de pessoas queridas pode ser também o caminho para descobrir que o amor é maior do que as distâncias físicas, que é eterno como Deus e não depende do tempo. 
As pessoas crescem progressivamente em amor alcançando graus sempre mais elevados. Quanto ao amor à felicidade, não existem limites para serem alcançados. São infinitos como Deus é infinito
Não podemos pretender que o amor e a felicidade estejam na meta final de uma corrida e que só vamos possuí-los ao chegar lá. São estrelas cuja luz podemos seguir desfrutando, a cada passo da nossa caminhada, quer dizer, amando as pessoas que caminham conosco, as obras que fazemos e o trabalho que executamos. Não são troféus para serem recebidos no pódio, mas o estado de espírito da pessoa que vamos entesourando em nosso ser. 



Assim, fazemos os votos de Natal, na celebração do nascimento de Cristo, na certeza de que sejam renovados e vividos todos os dias do ano.



A IGREJA DIANTE DO FENÔMENO
MIGRATÓRIO

Missionário Pe. Olmes

O ser humano é uma pessoa em contínuo movimento a procura de situações melhores de vida. Intempéries, tragédias naturais, escassez de alimentos, inundações eram as causas iniciais.
Depois surgiram os conflitos das famílias e tribos provocando o distanciamento de parte dos clãs. Nesse aspecto a Bíblia nos apresenta a história de Abraão e Lot que tiveram se separar por querelas entre os membros do grupo familiar.
Ambições, opressões, perseguições foram se aliando às forças que impulsionam as pessoas para outros lugares .
Hoje o fenômeno da migração está presente em todos os recantos do planeta caracterizando-se como um do grandes problemas sociais da atualidade.
A sociedade organizada, NGOs, governos e igrejas , tanto dos países emissores como de acolhida, não podem ficar alheias à situação de milhões de migrantes.
A Igreja, seguindo o exemplo de Cristo, procura atender as necessidades das pessoas em sua totalidade o que dizer, incluindo o lado humano e social, logicamente além do espiritual.
 A forma de atuação da Igreja junto aos migrantes é através das pastorais fundamentadas nos princípios do Evangelho e das comunidades do primeiros cristãos.
Estudando os documentos da Igreja e suas instituições pastorais e missionárias podemos catalogar diversas linhas pastorais tendo a pessoa do migrante como objetivo.

 A instrução pastoral “Caridade de Cristo para com os migrantes” publicada pelo Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes sugere que:
a) a ação seja centrada sobre a pessoa e defesa dos direitos do homem e da mulher e de seus filhos;
b) se destaque a dimensão eclesial e missionária das migrações;
c) se revalorize o apostolado dos leigos;
d) se descubra o valor das culturas na obra da evangelização;
e) se tutele e valorize as minorias, inclusive no interior da própria Igreja;
f) se tenha presente a importância do diálogo no interior da igreja e fora dela;
g) se descubra a contribuição específica da emigração para a paz universal.
A Igreja como instrumento da construção do Reino de Deus que se constitui de pessoas de raças, religião e culturas diferentes deve privilegiar o espírito de acolhida.

 “Na Igreja todos devem encontrar, de fato, a “suas Pátria”(Instrução Ap. Família Consórcio), sendo o ambiente próprio para que todos “ tenham vida, e a tenham em abundância”(Jo10,10).
Em resumo pode-se dizer podemos dizer que “o cuidado pastoral dos migrantes, de fato, comporta acolhida, respeito,tutela, promoção, amor autêntico a cada pessoa, nas suas expressões religiosas e culturais”(Erga Mig. C. Christi)





O MUNDO DAS INDEPENDÊNCIAS.

                         Missionário Pe. Olmes Milani CS





Quando ouvimos a palavra independência, somos levados a pensar na conquista da autonomia política de um país que era colonizado por uma nação européia.
No caso do Brasil, durante o governo militar, o estudante que não fosse ver os desfiles militares de 7 de Setembro era considerado meio comunistóide.
Hoje, o 7 de Setembro, é um dia desejado para visitar amigos, descansar ou viajar. As redes de televisão e rádio nos comunicam o que sucedeu em diversos lugares do país.
Contudo, é bom ter um dia dedicado à independência como uma oportunidade para refletir sobre a nossa vida diária e do povo. Graças à capacidade crítica, fomos amadurecendo e percebemos que existem dezenas de outras independências para serem conquistadas.
Apesar do crescimento econômico e de ser uma nação para qual o mundo volta os olhos, o Brasil ainda deve empreender movimentos para conquistar independências tão importantes como aquela que nos livrou do governo de Portugal, mas nos fez reféns de umas oligarquias que ainda hoje subjugam o país, fazendo prevalecer os interesses de alguns setores dominantes.
 É dependência daquela classe formada por um enorme número de políticos corruptos que o sistema judiciário não consegue punir porque também tem as mãos sujas.Outro fator de dependência é o governo paralelo, exercido pelo crime organizado, no qual se misturam traficantes, quadrilhas, seqüestradores, agiotas, atravessadores que mantêm a população sob a insegurança e o medo, limitando seus movimentos, iniciativas e participação na vida da comunidade.
O mundo das dependências não termina por ali. No país ainda existem muita pobreza, ineficiência no sistema de saúde, analfabetismo, injustiças de todo tipo e discriminações.
Existe também uma espécie de dependência, em conexão com o prazer, o passatempo, o divertimento que, durante muitas horas diárias, faz as pessoas reféns de seus interesses econômicos e consumistas ao mesmo tempo em que envenenam a família e a comunidade com suas idéias demolidoras apresentadas, principalmente, em seus reality shows.
Os principais agentes, neste campo, são as grandes redes de televisão que, durante muitas horas do dia, subjugam milhões de pessoas com suas futilidades, apresentando os malandros como heróis, ridicularizando as pessoas de bem e desprezando valores e princípios cuja finalidade é nortear a vida dos indivíduos e da comunidade.Ficou famoso, na História do Brasil, o grito “Independência ou Morte” que D. Pedro I teria emitido, declarando o Brasil livre de Portugal.
Com certeza, nenhum grito semelhante vai livrar um país e sua população da dependência da corrupção, da pobreza, da discriminação e das injustiças, mas a luta pacífica e constante de um povo que assume o destino, não dando espaço ao mal e aos seus agentes. 
É preciso lembrar que os maus políticos e governantes estão em seus postos graças ao nosso voto e que, para nos livrar deles, deveremos usar da mesma arma que os colocou lá, o voto.
Com certeza, cidadania associada à cultura do bem comum são peças fundamentais para que possamos conquistar as muitas independências que ainda não temos conseguido.




DISCÍPULOS PARA ACOLHER OU PARA EXCLUIR?

                                          Missionário Pe. Olmes Milani-CS

Um idoso e calmo missionário viajava de trem até o local onde participaria de uma reunião de pastoral de sua Diocese no Japão. Estava ele num dos assentos reservados para pessoas idosas, deficientes ou gestantes, quando, numa estação, embarcou um jovem que se dirigiu, autoritariamente, ao missionário dizendo-lhe: “Você é estrangeiro! Levante-se porque eu sou japonês e tenho direito a este lugar”. “Sim, você deve estar mal. Sente-se. Eu viajo de pé,” disse humildemente o missionário.
Situações como essas chocam, especialmente os imigrantes, dando a ideia de que são excluídos dos direitos de que os cidadãos locais gozam. Pode-se imaginar a dor impressa no semblante do missionário diante da exclusão provocada pelo jovem autoritário e arrogante.
Os conflitos entre quem era de seu grupo e quem era de fora provocaram intervenções firmes de Cristo, em diversas ocasiões. Curiosamente, as tentativas de exclusão partiram de pessoas do grupo de apóstolos e discípulos. Não se sabe se por zelo de ter a Cristo como Mestre ou por esperar uma oportunidade, quando Ele estivesse no seu Reino. Com certeza esta última falava muito forte no grupo dos doze.
É significativo o fato narrado pelo Evangelista Lucas (Lc 18,15-17). Algumas pessoas levavam suas crianças a Cristo para que Ele as tocasse. Diante disso, eis que os discípulos, por iniciativa própria, começaram a repreender aquele grupo de pais, na tentativa de afastá-los. Cristo não só concedeu espaço físico às criancinhas, abraçando-as, carinhosamente, mas  elevou-as até o mais alto grau, talvez o pretendido pelos dois irmãos que queriam estar um à sua direita e outro à esquerda: “Deixem as crianças virem a mim. Não lhes proíbam, porque o reino dos Céus pertence a elas.”. “Embora, frágeis, Ele as valorizou a ponto que os adultos devem ser como elas.” Eu garanto a vocês que quem não receber como criança o Reino de Deus, nunca entrará nele”.
 Dramática também é a cena da mulher Cananéia, a estrangeira, narrada por Mateus 15:21-28, suplicando-lhe ajuda, angustiadamente, por causa da doença da filha. Cristo assumiu a atitude do diálogo e de dar tempo ao tempo, como fez com a mulher samaritana e na conversa com Nicodemos, como meios de amadurecimento na fé. Os membros do grupo fechado dos discípulos entraram em ação, autoritariamente, para solucionar o “problema”. “Manda-a embora, pois vem gritando atrás de nós”. Ignorando a voz deles, Jesus continuou o diálogo sério e respeitoso com a mulher que revelou sua grande fé, que lhe permitiu voltar para a casa e encontrar sua filha curada. Assim ela encontrou a porta aberta para participar da mesa junto com os filhos de Israel.
Não nos cabe o direito de julgar os discípulos pelas suas palavras e gestos, no sentido de impedir que Jesus fosse perturbado pelas brincadeiras das crianças ou pelos autores do pedido para afastar uma mulher em desespero diante da grave situação de sua filha. Contudo, eles nos dão uma excelente oportunidade para questionar nossa atitude com os recém-chegados em nossas comunidades. Quase todas elas têm seus coordenadores. Em algumas são eleitos, em outras são nomeados; não faltam os autopromovidos. É muito comum perceber que se perpetuam, no cargo, e dão à comunidade um rumo pessoal, longe do modelo de Cristo. Por isso, ao inteirar-se de alguma iniciativa de alguém que não de seu clube, assumem o direito de transmitir ordens como se fossem emanadas do padre da paróquia.   Ouve-se amiúde, “Não podemos fazer assim esta atividade porque o padre não quer”. Na verdade está comunicando que elas não querem, usando o nome do padre. Assim, a oportunidades de envolvimento são para as pessoas de sua simpatia ou religiosidade, excluindo os diferentes ou aqueles que podem ameaçar sua posição. Já houve casos em que a celebração dominical foi atrasada porque alguém,* do grupo fechado da pessoa coordenadora, não chegava para fazer uma das leituras, enquanto na igreja havia diversas que, pela primeira vez, poderiam ser convidadas para exercer  se ministério com eficiência.
Um dos perigos das comunidades é o fechamento do pequeno grupo de amigos que as insensibiliza diante das angústias das pessoas de fora ou que se aproximam pela primeira vez,   ou não são cristãos da mesma linha religiosa. Com atitudes ou mesmo com palavras podem estar atualizando a expressão: “Manda-a embora, pois vem gritando atrás de nós”.
Este tipo de grupo tende a fechar-se sobre si ao mesmo tempo em que se fecha às orientações pastorais das dioceses. Seus mentores citam seguidamente o Papa em suas conversas, não para seguir suas orientações, mas justificar sua religiosidade.
Não raramente, manipulam a Bíblia e os ensinamentos da Igreja, geralmente, extraindo algumas frases isoladas como muleta para seu grupo, mas evitam ter uma visão abrangente da doutrina. Na prática, tal atitude, filtra as pessoas, permitindo a aproximação de quem comunga com suas visões parciais em contraposição ao “Deixem vir a mim as crianças...” de Cristo. São como o pedágio seletor. Fácil é entender que Cristo ama muito mais os que são impedidos de chegar a Ele.
Quando as pessoas se transformam em donas exclusivas da verdade, dogmáticas, radicais e moralistas, o prejuízo para a construção de comunidades dinâmicas é enorme, especialmente para a pequena Igreja no Japão, que necessita  abrir-se e acolher. Pretendem empobrecer o Espírito Santo, limitando-O  ao “dom de falar em línguas” e mais algum. Daí a grande resistência de ler e meditar a 1ª. Cor 14,1-35, sobre as línguas e 1 Cor 12 sobre os muitos dons presentes no Povo de Deus. Herodes ficou preocupado ao saber que havia nascido um Rei em seu território . O medo era ser destronado. Será que os muitos “discípulos” não estariam impedindo que os recém
Hoje é notória a existência de uma oferta exuberante de religião e de movimentos religiosos de todo tipo e gosto,* tanto sob o guarda-chuva da Igreja Católica como de outras denominações cristãs. Cada dia surgem grupos novos, “comunidades” e movimentos autoproclamando-se como os melhores e os mais ortodoxos. Com frequência esses grupos de “discípulos” se atribuem erroneamente o título de “missionários” e porta- vozes da Igreja. Considerando o mandato de Cristo, o missionário é seu enviado para anunciar a Boa Nova a toda criatura, sendo instrumento de Deus na construção do Reino. Na verdade, o que se vê é uma preocupação ardorosa de propagar e atrair pessoas, cada um para seu próprio grupo, linha religiosa ou movimento,* desconsiderando o anúncio a toda criatura tão desejado por Cristo com a finalidade de construir o Reino de Deus.
Nem tudo é tenebroso quando falamos de discípulos. São milhares aqueles e aquelas que se engajam com denodo ao anúncio da Boa Nova, acolhendo a todas as pessoas de forma livre e desinteressada, traduzindo o amor em obras com a visão voltada para a construção do Reino.Um exemplo maravilhoso é um velhinho e simpático sacerdote japonês que, nas dependências de sua igreja acolhe alcóolatras, dependentes quimícos e excluídos de qualquer nacionalidade. Certamente as palavras de Cristo: “Venham vocês, que são abençoados de meu Pai. Recebam em herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo” (Mt25, 34) serão dirigidas para esses discípulos verdadeiros.





A ECONOMIA E A DANÇA DOS MIGRANTES
Tóquio, dia 17 de agosto de 2011.
De alguns anos para cá os olhos dos governantes e da maioria das pessoas que influenciam o mundo apóia-se na economia como referência, dando quase a impressão de que, sobre a terra, só têm sentido o dinheiro e os meios para produzi-lo. Nas campanhas eleitorais, os problemas relacionados com o ser humano são o pano de fundo dos projetos econômicos. Sendo postos na retaguarda, excluem a atenção prioritária de quem vai exercer o poder.
Já houve tempos em que os partidos políticos existiam em função de ideologias. Nos debates elas estavam no centro de tudo. Era considerado vencedor quem conseguisse provar que a sua era a melhor.
Os tempos mudaram. Hoje em dia, a economia é onipresente e onipotente, transformando seus idealizadores em heróis, enquanto considera inimigos todos aqueles que defendem os fatores inerentes ao ser humano e sua dignidade. Debatem-se os problemas econômicos, desconsiderando os que a ganância e a concentração da riqueza causam ao ser humano. Ela não existe em função do ser humano, em sentido amplo, logo, os expertos economistas estabelecem uma vala, separando o econômico do humano. Assim, economia e ser humano são tratados separadamente nos fóruns, isto é, vistos sem conexão.
Quando relacionamos a economia com as causas da emigração, percebemos um paradoxo. Encontramo-nos diante de uma espécie de centrífuga invisível que expele o ser humano. A tão divinizada economia, nos países em desenvolvimento, passando pelo processo de concentração da riqueza, joga para fora as pessoas que são forçadas a procurar refúgio nas periferias das economias dos países ricos, na tentativa de conseguir seu sustento.
Geralmente, os imigrantes em países ricos engrossam sua classe pobre que, se comparada com aquela dos países de origem, poderia ser considerada classe média, dando a idéia de certa melhoria quanto ao bem estar e remuneração. Será verdade? Com a eclosão da crise econômica mundial, o redemoinho se acelerou e a força centrífuga expeliu um grande número de estrangeiros. Milhares de migrantes brasileiros na Europa, Estados Unidos e Japão viram seus sonhos interrompidos pelo desemprego e voltaram com as mãos vazias, enquanto outros permaneceram por não ter recursos para pagar a passagem. Não devemos esquecer que o Japão incentivou, financiou e subsidiou o retorno de muitos migrantes convidados a vir para o país com a finalidade de suprir a carência de mão-de-obra nos tempos áureos de sua economia. Ao invés de investir no ser humano para que ele pudesse permanecer e ajudar o país a sair da crise, com seu trabalho, preferiu-se desfazer-se dele exigindo-lhe a renúncia do visto de permanência.                      
Tudo isso nos faz pensar que o sistema de centrifuga, tendo a economia como centro, é detestável e inadequado por provocar a exclusão de milhões de pessoas cujo valor os limita a serem instrumentos de produção. Sob este aspecto, o trabalhador é visto como algo descartável e o primeiro a ser afastado, enquanto as máquinas são mantidas e lubrificadas, à espera do fim das crises
 Talvez pudéssemos imaginar a economia como um lago ameno em cujas águas singra o navio dos seres humanos, na conquista de seus ideais de felicidade e bem estar espiritual e material. Assim teríamos a economia a serviço da humanidade e não o contrário.
                                                                                               Missionário Padre Olmes Milani CS
                                                                                                                                               Japão, 16/07/2011






SOLIDARIEDADE
E FRATERNIDADE
Pe. Olmes Milani CS
A palavra “SOLIDARIEDADE” teve e continua tendo muitos usos. Já virou nome de movimentos, partidos políticos, associações. De um modo mais comum é entendida como um sentimento de simpatia, compaixão, ternura, piedade para com os pobres, desfavorecidos, injustiçados, vítimas de fenômenos naturais ou da ação do próprio ser humano contra si mesmo.
A ação pode ser para um momento específico ou permanente. Enfim, ela recebe as cores de acordo com as convicções das pessoas ou grupos humanos que a praticam; por isso (ela) pode ter as características da gratuidade ou visando algum retorno.
Poderíamos associar solidariedade e fraternidade cujo resultado seria: amor em ação. O amor só é entendido dentro
da gratuidade. Tudo o que está ligado à retribuição de qualquer tipo não tem sentido dentro desta visão. Por retribuição entendemos não só o auferir de benefícios materiais, mas também os invisíveis. Isso sucede quando alguém presta a ajuda para ser lembrado mais tarde com um artigo no jornal ou, quem tem pretensões políticas, com o voto.
Parece bastante difícil entender como solidariedade a ajuda que uma pessoa ou grupo presta,* levando consigo repórteres de rádio ou TV, desfraldando bandeiras para comunicar que um ou outro está exercendo a solidariedade. Uma das facetas da solidariedade mais genuína é a praticada pela multidão anônima e silenciosa que se faz presente nas desgraças.
 
Coração, entrega e, especialmente, amor vêm antes da organização e da oficialidade. Espontaneidade é a característica. O convite para engajar-se não precisa vir de alguém. A necessidade é a chamada para arregaçar as mangas.
Coração, entrega e, especialmente, amor vêm antes da organização e da oficialidade. Espontaneidade é a característica. O convite para engajar-se não precisa vir de alguém. A necessidade é a chamada para arregaçar as mangas. São pessoas não vistas pelos repórteres e autoridades e até passam despercebidas, mas elas vêem o próximo que
sofre as carências materiais e espirituais, como irmão ou irmã.
Para as pessoas que professam a fé cristã, a solidariedade é a expressão do que crêem. Cristo, líder invisível, mas real orienta-as, indicando que a ação não é vinculada a nenhuma condição. A fé traduzida em obras é aquela que prolonga a ação de “Deus Pai que faz nascer o sol sobre os maus e bons, e a chuva cair sobre os justos e injustos” (MT 5,45).
A pessoa que vive e age com fé conquista sua felicidade, vivendo o amor como Deus, e sendo perfeito como Ele.
O critério para saber se sua ação é solidária e fraterna, amor em ação, são as palavras do Mestre: “Pois, se vocês amam somente aqueles que os amam, que recompensa vocês terão? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se vocês cumprimentam somente seus irmãos, o que é que vocês fazem de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa?
“Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu.»



O CAMINHO SE FAZ CAMINHANDO
Missionário Olmes Milani CS

Quando olhamos a história que fizemos ou o caminho percorrido, percebemos a vida como uma experiência necessária para aprender dela, a cada passo. É um atalho sobre o qual ficam impressas nossas pegadas, uma depois da outra, até o lugar onde nos encontramos no momento. É um caminho com uma sucessão de marcas nossas nas quais se alternam muitos dias doces com outros carregados de tristeza. Embora digamos que chegamos ao lugar de destino, percebemos existir ainda muito caminho pela frente. As paradas momentâneas que tivemos foram somente para preparar o passo seguinte. Desta maneira, o caminho se estende porque continuamos a caminhar.

Ao meditar sobre a experiência do migrante, sua imagem projetada em nós é aquela de alguém que caminha, se desloca e avança para o desconhecido, Na sua mochila de caminheiro, leva sua cultura, religião, valores, princípios, sonhos e esperanças. Há um lugar reservado para a saudade daqueles que ficam, da terra natal e da comunidade. Dentro de algum tempo, ela será mais um item naquela mochila cujo peso não se pode aferir materialmente, pois seu conteúdo tem um valor inestimável.

Entre abraços e apertos indecisos de mãos, mistura de sorrisos e lágrimas, palavras confusas de afeto, desgruda-se daquele pedaço de terra para estender o caminho que, para o migrante, a partir daquele momento, far-se-á com passos gigantes e rápidos. Em questão de poucas horas, ele pode chegar aos confins de nosso belo e ameaçado planeta.

O migrante alcança o seu destino, mas continua caminhando e fazendo caminho. Este não se limita ao lugar de chegada, mas continua a se esgueirar, no mundo dos seres humanos. Olha para trás sem retroceder. Está ingressando numa nova cultura, conhece outras crenças e valores, depara-se com outras formas de viver, carregando em sua mochila, o tesouro oculto do qual não quer se desfazer. Subtraí-lo é impossível às pessoas ou circunstâncias. Lá dentro está sua identidade; não pode ser transferida.

Chega o momento de dar um novo passo. As indecisões são normais enquanto o pé não encontra solo firme. Aos poucos, o migrante com sua mochila sente-se seguro. Porém o sucesso está na determinação de botar o pé na estrada, abrindo caminho dentro do mundo desconhecido aonde ele chegou. Os passos podem ser lentos e em silêncio para perceber, na turbulência ao seu redor, um mundo inexplorado, pessoas diferentes, com sonhos muito próprios para viver. O caminho foi encompridado para trazer o migrante a um lugar de descobrimentos onde vai continuar a carregar sua mochila, agora, entre seres humanos.

É inevitável que o caminheiro ou migrante experimente também a solidão. Não lhe faltam oportunidades de olhar para trás. Algumas vezes, somente vê suas pegadas e de mais ninguém, especialmente nos momentos em que tentou caminhar sem a companhia de alguém.
A experiência leva o migrante a perceber a necessidade de construir o caminho com as pessoas de seu convívio e as que vai encontrando, cada uma abrindo sua mochila para partilhar seus tesouros culturais, a solidariedade e a fraternidade.

Certamente, o migrante vivencia uma grande aventura onde se inclui a idéias do desafio, do risco e do perigo sem se afastar do deslumbramento e satisfação de provar que é capaz de superar tudo isso. Assim como um alpinista, atingindo o cume de uma montanha, depois de uma escalada difícil e um atleta ao marcar um gol gritam, gesticulam e comemoram sua conquista, o migrante tem muitas realizações para celebrar, graças à sua capacidade de caminhar com as pessoas que encontra pelo caminho.

O caminho se faz caminhando. Porém, embora difícil, é uma aventura maravilhosa se caminhamos juntos, abrindo as mochilas para compartilhar os tesouros.



O EGOÍSMO
“Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas“ (MT 7,12)

Nos vocabulários das línguas latinas existem muitas palavras que causam repulsa. Mas talvez nenhuma soa tão nefasta aos nossos ouvidos como a palavra “egoísta”. Os outros vocábulos que derivam de “EGO” são carregados de negativismo, provocando sentimentos de antipatia. Além de egoísmo, são elas: egocentrismo, egolatria, egodistonia egóico, egomania, egodistonia. Fica a impressão que do “ego” não emanam coisas boas. O “ego” parece querer incorporar tudo em si mesmo, sem abrir e menor janela para o mundo externo.
O egoísta só ama se é amado. Estende a mão se outra pessoa se compromete a estender a sua. Os abraços do egoísta não transmitem afeto. Seus beijos são secos, sem amor. A pessoa egoísta não admite ter pecados. Vive e morre sem virtudes. Mas, enquanto vive e rasteja sobre esta terra, arroga-se o direito de estar acima do bem e do mal, e de julgar seus semelhantes, classificando-os como perversos.

Embora o egoísmo assuste, ele tem uma proximidade muito forte conosco mesmos. A viagem para dentro de mim, em contacto com meu ego, faz-se praticamente sem pedágios. Os meus pequenos problemas absorvem todas as minhas energias, fechando seu fluxo para o semelhante que, muitas vezes, nada num oceano de sofrimento.

Indubitavelmente, o egoísta tem consciência de que sua situação é assombrosa, mas resiste em reconhecê-la. Não é raro encobrir seu egoísmo, afirmando que tem “personalidade”. Já não distingue mais o que é vício e o que é virtude.
Poderíamos comparar a situação do egoísta como a um coco. Ele é hermeticamente fechado mas, no lado onde estava preso ao cacho, existem três pequenos pontos de polpa mole. Com qualquer objeto pontiagudo e sem muito esforço, enquanto ele é ainda verde, é possivel remover a polpa para que saia o líquido contido em seu interior; quando amadurece e o líquido dá lugar à polpa, serão necessários golpes de matelo e o corte do serrote pra abri-lo. Se o egoísmo ainda não chegou ao estado de “maturação”, será mais fácil pressioná-lo para desinstalá-lo, acarretando alguns sofrimentos. Contudo,tirar de quem deixou envelhecer o egoísmo, custará lágrimas de sangue. Mas vale a pena expelir a praga, para que a pessoa possa encontrar seu verdadeiro lugar no seio da comunidade, a alegria de amar e ser amado, de descobrir que existe muito mais felicidade em dar do que receber e perceber quão maravilhosa é a aventura de desenvolver as virtudes com as pessoas que a rodeiam.
Se o bom vinho deve sair da garrafa para deliciar os paladares, quanto mais nós, filhos de Deus, devemos transbordar de amor gratuito para vivermos em paz e harmonia com os semelhantes.




Escuta no Silêncio
“Escuta com atenção todas estas ordens que te prescrevo. Assim, serás feliz, tu e teus filhos depois de ti, porque terás realizado o que é bom e reto aos olhos do Senhor(Dt 12,28).
É uma linda experiência produzir um pouco de silêncio ao redor e dentro de si para escutar. Sim, simplesmente escutar. Escutar não só os barulhos, a música, as palavras e o sussurro do vento, mas escutar também o próprio silêncio. Quando produzimos silêncio dentro de nós mesmos é o momento em que escutamos mensagens que não tem origem em lugares e nem são transmitidos pela tecnologia ou pelos meios de comunicação. Escuto o que há dentro de mim mesmo, no íntimo de meu ser. Não existe som, mas as “ vozes” são reais.
Thomas Merton disse: “nenhum ser humano é uma ilha”. Mesmo em silêncio, não somos ilhas. Estamos ligados a Deus, às pessoas e à natureza. No silêncio ouvimos as voz de Deus-Pai que nos aquece com seu amor que nos traz para dentro de nosso silêncio as pessoas que estimamos e a natureza que é o ninho amplo e belo no qual vivemos.
A atitude durante o silêncio é a escuta. Não precisamos falar e nem ouvir as vozes fisicamente. Elas soam dentro de nós. São a voz de Deus, a voz das pessoas, a voz da natureza e a nossa voz que em sinfonia dialogando entre si em perfeita harmonia dentro de mim.
No silêncio profundo do meu ser escuto a orquestra mais fantástica que possa existir.

Pode ser um momento para dizer: “Fala, Senhor, que teu(a)servo(a) escuta”.