Alimento da Vida -Dia 2 de Setembro de 2012- “Vós abandonais os mandamentos de Deus para seguir a tradição dos homens”. Os mandamentos de Deus são eternos e mais importantes.


QUANDO OS CORAÇÕES SE FECHAM, TODOS PERDEM

Não faz muito tempo, fui convidado para participar de uma "Missa Internacional”. O tom "Internacional” vem do fato de que as duas Leituras são feitas em língua estrangeira e o trecho do Evangelho em japonês. As Orações da Assembleia seguem o mesmo padrão. Contudo, todas as demais partes da missa foram marcadas pelo estilo ritualista japonês, com a ausência de expressões e símbolos da religiosidade dos grupos de estrangeiros. A situação indicou que a missa não batia com suas vidas. Foi como roer um osso sem carne. Em outras palavras, não foi “agradável”.
Em certa ocasião, uma celebração semelhante estava para iniciar e havia indícios da presença de poucas pessoas e que não seria a missa que apreciariam. Percebi que a preocupação não era só minha. Um acólito vestindo sua túnica se aproximou e me disse: "as missas internacionais não deixam ninguém contente; os japoneses não vêm porque não entendem as línguas estrangeiras e os estrangeiros não vêm porque não estendem a língua japonesa”.
A integração de imigrantes pode ser um grande desafio, particularmente na sociedade tradicional japonesa que é caracterizada pelo fechamento. A situação é uma oportunidade para refletir sobre a qualidade e autenticidade dos nossos valores cristãos no que se referem à fraternidade e solidariedade que exigem “corações abertos” para acolher o estrangeiro.  
A resistência para quebrar o círculo vicioso da parte da Igreja Local e a falta de preparação dos estrangeiros para se tornarem membros de uma nova comunidade é estressante para todos. Por causa disso podemos constatar que muitos católicos japoneses vão participar de missas em igrejas onde não existem atividades com estrangeiros. Entre os imigrantes latino-americanos, percebemos dois movimentos: um é a existência de grupos independentes com religiosidade marcada pelo pentecostalismo, fora da autoridade do sacerdote ou da estrutura paroquial, mas usando suas dependências; e outro, muitos imigrantes preferem criar suas próprias comunidades como igrejas protestantes que se transformam numa segunda casa onde eles podem ir diversas vezes por semana, participar de serviços religiosos em sua própria língua e encontrar alguém com quem falar sobre seus problemas. Note-se que a quase totalidade das igrejas católicas só oferece a oportunidade de celebrar a missa em língua estrangeira uma vez por mês e em horário inconveniente, dificultando a formação de comunidades.
Na verdade a Igreja Católica no Japão está se interessando muito na acolhida dos estrangeiros. Existem muitas missas em português, espanhol, inglês e outras línguas pelo país afora. Se trabalhar com pessoas da mesma cultura e religião já é considerado como um aprendizado que dura a vida toda, numa situação intercultural e religiosa, muitos outros desafios deverão ser enfrentados.
O processo bem sucedido para construir a Igreja como casa na qual os japoneses e estrangeiros possam sentir-se bem, sugere um chamado à comunhão de todos os membros da Igreja e que se assuma a visão do Reino de Deus no qual as pessoas de cada cultura e origem possam conviver em paz e amor. Os japoneses e imigrantes poderiam nutrir o sonho de que a qualidade de sua fé não será julgada tendo como critério a cultura, modo de viver, manifestações religiosas, mas pela existência do amor que une as pessoas com suas diferenças e se enriquece com elas.
A maturidade de uma comunidade cristã poderá ser constatada quando as pessoas de diversas culturas e procedências e os japoneses celebrarem a vida com alegria, na sua caminhada na fé.

Missionário Pe. Olmes Milani CS
Tóquio dia 23 de abril de 2012.




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